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Entrevista a Mercedes Mason

Quem é Ofelia Salazar, e o que te atraiu na personagem inicialmente?

Na primeira vez que li o guião, a minha personagem era muito forte, indo lado a lado com o seu pai Daniel, mas, à medida que se foi desenvolvendo, foi se tornando muito mais suave, basicamente numa “menina do papá”. Já não acho que tenha força para suportar tudo sozinha, mas os desafios deste mundo irão ajudá-la a desenvolver a sua força. Adoro mulheres fortes e era fã da série original, portanto fiquei interessada imediatamente.
A Ofelia é filha única e há muito sobre os seus pais que ela desconhece. Adoro a ideia de passar de um local inocente e protegido a ser atirada para o fundo do poço, e como atriz é muito desafiante pegar nisto. Quero que ela passe de ser protegida a mázona e que pegue numa arma qualquer – como imagino que irá acontecer a uma determinada altura…

Qual é a premissa da série?

Nós começamos do zero. Os fãs do original vêem Rick Grimes a acordar e o mundo já foi ao ar e a sobrevivência já está no seu melhor. Nesta série, nenhum de nós sabe o que está a acontecer, como personagens não sabemos a magnitude da situação. Além disso, é mais difícil matar porque os walkers na nossa série são “mais frescos”, parecem-se mais com os nossos vizinhos, com os nossos amigos. Torna-se muito psicológico matar alguém com uma aparência mais humana, por oposição a um walker que já está morto há anos e em decomposição. E isso aumenta o medo tremendamente. Somos forçados a perceber por nós próprios em quem podemos confiar ou não. E depois juntamos walkers  a isso e ficamos com uma data de personagens a lutar contra a moralidade e a descobrir como este novo mundo está a ser moldado.
Para mim, isto pode ler-se como uma versão adulta de “O Deus das Moscas”. Este foi um dos meus livros favoritos quando estava a crescer. Vários desconhecidos eram atirados para uma situação e tinham que sobreviver. A família é importante porque são as únicas pessoas em quem podes confiar e depender durante o apocalipse. Também é importante ter autoconfiança e compreender as próprias forças. É sobre sobrevivência e instinto humano que falamos na série.

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Que tipo de dinâmica é criada pelo facto de o público saber mais do que as personagens?

Eles já sabem muito mais do que as nossas personagens sabem. Como atores, os guiões são tão secretos como o Tesouro Nacional, e são revelados mal temos o índice lido, e aí é que descobrimos as coisas. O público sabe 100% mais do que nós sobre os walkers, este universo e o que vamos enfrentar. Nós somos emitidos entre as temporadas de The Walking Dead, portanto vai ser bom para os fãs andarem para trás e para a frente entre estes dois mundos.

Qual a importância da família para Ofelia?

Adoro que ela seja uma mistura da mãe e do pai. Aos meus olhos, a mãe é como a Virgem Maria, muito bondosa, querida e gentil. O pai tem a força, conhecimento e sabedoria, mas é completamente desconfiado e paranóico relativamente ao que acontece à volta dele. Ofelia respeita e ama os dois, portanto fica presa entre estes dois mundos ao tentar ser gentil, mas tentando também não ser ingénua.

O que acontece quando as famílias se juntam, e como surge o conflito entre as nossas personagens em termos de sobrevivência e a actuar de forma compassiva?

É uma coisa natural a fazer quando as pessoas se unem. Queres ter alguém em quem confiar, precisas de companheirismo e tens que ter confiança. Todos somos seres humanos diferentes, nem todos nos vamos dar bem. Portanto, não só o mundo se está a desfazer por fora mas também a desmoronar-se por dentro porque estamos a forçar as famílias a estar juntas porque não temos outra escolha.
Eu acho que assim que a sobrevivência entra na equação – a necessidade humana de sobreviver é tanta que fazes o que for preciso para ter a certeza que tu e os teus entes queridos estão a salvo. Nesse momento a ética entra em ação e perguntas-te “Esta pessoa está a magoar-me? Posso fugir dela? A minha única opção que tenho é matá-la?”. E eu penso que o limite é desenhado muito rapidamente e numa base individual. Nesta série há uma batalha constante porque o nosso inimigo tem uma aparência muito humana. Torna-se tudo mais difícil quando o infectado é o vizinho com quem tomaste café ontem.