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Entrevista a Kim Dickens

Como é que te envolveste nesta série?

Fui para a audição sem saber nada sobre The Walking Dead. Sabia que era popular mas ainda não tinha visto a série. Então, quando fui chamada perguntei o que deveria ver para me preparar, e os produtores disseram: “Nada. Não veja The Walking Dead“.

Acha que ver The Walking Dead teria sido benéfico para a personagem?

Não quero que a minha personagem tenha uma ideia do que é este mundo apocalíptico. Não quero ter uma ideia na minha cabeça que me influencie. Prefiro esperar um pouco antes de assistir à série, porque não quero conhecê-la como fã.

Madison é a melhor personagem em que já trabalhei! Considero-me uma pessoa com sorte por ter representado papéis realmente interessantes ao longo da minha carreira, porque há muitos níveis de interpretação. E a ação é ótima, também! Fisicamente exigente e realmente divertida.

Como é trabalhar em algo tão secreto?

É assustador! Já disse coisas antes e cheguei a acordar a meio da noite a pensar nisso. É difícil, mas emocionante.

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O stress a que a sua personagem é submetida é desafiante?

Sim, é definitivamente um desafio. Acho que é por isso que a série é tão emocionante. Os riscos são sempre tão grandes e há tantas tantas coisas subjacentes também. São muito exigentes, mas acabamos por nos habituar e desejar ir mais além. Vai ser assustador, e como ator, é divertido fazer parte disto.

Além disso, há temas que tocam as pessoas – a humanidade, o que fazemos para sobreviver e aquilo em que nos tornaríamos nesses momentos de alto risco. O que é que vai trazer ao de cima em nós e o que vamos descobrir sobre nós próprios? Estes momentos de vida e morte são um desafio e geralmente não são experienciados no nosso dia-a-dia. Tento personalizar tudo isto e isso é desafiante.

Queres saber o que vai acontecer à sua personagem mais para a frente?

Em todos os trabalho de televisão que já fiz, fui habituada a não ter mais do que um guião de cada vez, isso tem a sua própria magia, e as séries têm a sua própria personalidade e forma de funcionar. Esta temporada foi preparada para nós e está muito bem escrita, com cada página a revelar-se uma grande surpresa para mim.

Como é Madison?

Esta personagem é durona. É destemida, perturbadora, soturna, complicada e bastante focada. Madison é forte, mas tem ao mesmo tempo uma carga negra e duvidosa.

Em que fase da vida está Madison Clark, no início de Fear?

É uma mãe solteira com dois filhos incríveis, um algo mais problemático do que o outro. É uma orientadora vocacional e o seu namorado Travis foi recentemente viver com ela. Madison é loucamente apaixonada por ele, e eles estão a juntar as suas famílias – Travis com o seu filho Chris (que vive com a ex-mulher de Travis, Liza) e eu, com os meus filhos Nick e Alicia.

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Como é a relação entre Madison e Travis antes do apocalipse?

Eu acho que Travis está verdadeiramente comprometido com Madison e aceita as suas falhas e a sua complicada família. Ela tem um filho de 19 anos que é viciado em drogas, que entra e sai constantemente de centros de reabilitação, o que não é uma situação fácil. É uma situação muito desafiante e ele apoia-a muito, o que revela o quanto gosta de Madison. Não acho que Travis e Madison estejam à espera da perfeição, querem apenas ser capazes de estar juntos e encontrar alguma harmonia na sua disfunção.

Como é que Madison lida com a situação de Nick, e com Alicia?

Madison quer salvar o filho. É uma co-dependente. É difícil para uma mãe não se sentir responsável por um filho que não saiu ileso, e que já tem problemas com drogas há algum tempo. Chegaram a um ponto em que ele tem o direito de dizer sim ou não, é um adulto. Em última análise, Madison quer o melhor para ele, quer que fique limpo. No fundo, sente-se responsável e sente que às vezes falha no modo como reage quando ele a deixa louca, coisa que os viciados em droga costumam fazer. Esse comportamento é realmente perturbador para uma família.

Alicia tem 17 anos, é a filha de ouro – inteligente, bonita, sensata, apesar da sua família disfuncional e da morte do seu pai. Foi uma grande perda para a família. Ter que lidar com um irmão viciado em droga faz com que muita da atenção seja dirigida para ele – e por isso às vezes sente-se menosprezada e ressentida com Nick, mas gosta dele. Podemos observar o amor que existe nesta família, apesar de partida e danificada, o amor existe. Acho que às vezes Alicia quer sair e afastar-se da família e de todos os dramas.

Porque é que nos podemos identificar com esta família?

O que nos torna capazes de nos identificarmos com esta família é o facto de serem dois lares desfeitos que se juntam para formar uma família unida outra vez. Não é uma coisa fácil de fazer. Hoje em dia há muitos divórcios e famílias novas e reestruturadas e o público vai reconhecer essas lutas.

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Onde podemos encontrar esta família no início da série?

Encontramo-la logo no início da queda da sociedade. Encontramo-la na sua vida e lutas do dia-a-dia, com um tipo de história comum a todos, e de repente, são confrontados com o início do apocalipse. Ninguém tem respostas, tudo está fora de controlo e é horrível. Acho que o pior pesadelo da maioria das pessoas é confrontar-se com um desastre natural sobre o qual não tem nenhum controlo, nenhum conhecimento, nenhum poder, que é o que acontece na série. Todos nós podemos morrer, os nossos vizinhos estão a mudar à nossa frente, mas não se parecem com criaturas de outro mundo – parecem-se com um de nós. Os caminhantes na nossa série são “novos.” Eles são mais reconhecíveis como humanos, como um de nós. A sua aparência é só um pouco diferente, e isso é mais assustador.

O que será diferente para os fãs de Walking Dead que assistam a Fear?

As personagens estão tão atrasados em relação ao público! Nós não temos nenhuma da informação que eles têm, portanto imagino que o público esteja a gritar para a televisão, dizendo “Não entres aí!” Mas eu acho que também vão ter compaixão por essas personagens que estão a lutar e a usar toda a sua inteligência e instintos para perceber e analisar estas circunstâncias. Vai ser interessante ver dessa forma.

Qual é a essência da história?

Acho que a essência da história é a família e aquilo por que as famílias passam, e como as circunstâncias que nos desafiam até ao nosso âmago nos aproximam ou nos destroem. Acho que para Madison a única coisa que interessa é salvar a sua família, e a pior coisa que lhe poderia acontecer seria perdê-la.

O que receia Madison antes que de ter conhecimento da insurreição?

Madison teme que a sua família imperfeita possa ser um impedimento e que Travis possa desistir de lidar com todas as questões que surgem. Eu acho que esse é o seu medo e insegurança. Felizmente Travis está empenhado na relação. Travis e Madison estão nisto juntos. Sobreviveram antes do apocalipse, portanto de certa forma este desastre pode aproximá-los… ou não.

Como é trabalhar com Adam Davidson como realizador?

Adoro o Adam Davidson. Dirigiu os três primeiros episódios. É um realizador incrível com quem trabalhei pela primeira vez em Deadwood, e algumas vezes em Treme. É um realizador muito compassivo e também já foi actor. Estudou com a Stella Adler, tem algumas ideias realmente muito boas, e nunca se esquece em nenhum momento do ator. Mantém as coisas humanas e realistas em todos os momento. Percebe estas coisas e consegue manter as personagens muito vivas. Há imenso amor criativo nisto, e é isso que Adam tem – um coração imenso. Ele é perfeito para nós.