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Entrevista a Frank Dillane

Quem é Nick?

Nick Clark é um rapaz de 19 anos, cujo pai morreu e que vive com a mãe e irmã – bem, de certa forma, já que ele foge de casa de vez em quando. Também luta contra o vício . Nick está constantemente entre a vida e a morte e acho que é assim que a vida é para os viciados. Tudo é vida e morte. Juntamos isto com o fim do mundo e temos um jovem muito instável.

O que é te intriga na interpretação dessa personagem e em fazer parte desse mundo?

Eu não vi The Walking Dead original. Gosto do facto de não se utilizar o chroma key (fundo verde utilizado para filmar em estúdio) e assim. Atuar hoje tem muito a ver com entretenimento vazio, e esta série lida com algo importante, porque o mundo há-de acabar um dia. Todos os temas da série parecem ser realmente importantes e reais. Foi isso que me intrigou. A família é um tema, a morte, a moralidade, o que é ser um ser humano, o que é matar alguém e qual o efeito que isso causa. O que acontece com a humanidade quando as paredes caem? O que estamos realmente a fazer aqui? Estes são temas reais, são humanos.

Qual é a história por trás desta série?

Passa-se antes do apocalipse ter acontecido, por isso ainda estamos na fase em que nos questionamos sobre se isto será uma doença. Poderá ter cura? Acredito que o governo possa ter um papel importante relativamente àquilo que nos é dito, ou não, e à lavagem cerebral que nos fazem, ou não.

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De que forma é que nos podemos identificar com a família e com Nick?

Eu acho que esta família é apenas “uma família.” Acho que nos podemos identificar com eles porque por isso mesmo.

O que é diferente em Fear e The Walking Dead?

A diferença é que numa o apocalipse já está estabelecido enquanto na outra  está-se a meio deste. Existe o direito de matar ou não? Essas questões estão ainda a ser determinadas. Fear é muito mais sobre lidar com a moralidade que é matar um zombie.

Qual é o relacionamento de Nick como com sua mãe, Madison?

Acho que é uma relação normal de mãe e filho. Sei que para os olhos de algumas mães, os seus filhos não podem fazer nada de mal e eu isso para mim pode ser uma falha de uma mãe. Às vezes, não conseguem ver que os seus bebés não são apenas auto-destrutivos, mas destrutivos, e recusam-se a acreditar que possam ter criado um monstro. Não que Nick seja um monstro, mas, por vezes, as suas ações são monstruosas. O amor de uma mãe pode ser tão super-protetor e tão difícil para os filhos de aceitar porque eles podem ser como pequenos ratos egoístas. Como pode esta mulher ficar ao lado dele? Acho que isso também é difícil.

Nick está muito dependente de objetivos egoístas, por isso não tenho a certeza do que realmente sente em relação à família. Está preso às necessidades e à gratificação imediata, pelo que não sei ao certo como está a sua alma. Parece estar sob uma nuvem de dificuldades. A pessoa ausente em toda a equação é realmente o pai de Nick e acho que ele ainda está numa fase de recuperação do choque dessa perda. E eu acho que é isso que dá a Nick uma desculpa para parecer não se importar tanto com a morte do pai.

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Como é que Nick reage aos zombies?

Acho que ele sabe o que vê. Acho que se as pessoas duvidam de ti, a dúvida instala-se. Por vezes é difícil acreditar em drogados. Talvez ele seja inconsistente na sua linguagem ou emoções e possa parecer louco. Eu acho que essa característica já existia antes da heroína. É como se a loucura existisse de qualquer maneira. Eu acho que para Nick é tudo vida e morte. E eu tentei ser infantil e não me preocupar com os condicionalismos sociais ou expectativas sociais sobre o que é ser um ser humano. Eu acho que se fossemos como Nick, gostaríamos de ficar do lado de fora da sociedade.

Como é o mundo no seu estado pré-apocalíptico?

O mundo é como é – muito lixado, muito mau. Nós vivemos numa sociedade capitalista. A comunidade está morta. Estamos todos voltados para nós mesmos, e acho que esse é o estado em que nos encontraremos no fim do mundo. O que acontece quando Nick deixar de poder ser egocêntrico, quando ele tiver que cuidar da irmã ou da mãe? Acho que então vamos perceber quão tolos temos sido.

Nick vai perceber melhor este mundo?

O vício é uma algo física na mente. Fizeram um teste com um rato em que ele tinha que pressionar um botão, e se o infectasses com o gene do vício, iria continuar a apertar o botão até morrer. Assim, o alimento não é o problema, o gene é que é o problema. Então, quando deixar a heroína, talvez se torne viciado em alguma outra coisa, como o amor.

Acho que um viciado é alguém que tem uma relação estreita com Deus, e ele está consciente de que Deus falta na sua vida. As drogas dão-lhe, pelo menos, uma religião, dão-lhe algo por que viver. Eu acho que assim que Nick deixar a heroína, mas ainda não é o momento, não vai achar que não tem nada por que viver. E isso pode ser uma coisa ótima. Se não tiveres nada por que viver, não te importas com nada. Nick flutua constantemente entre a vida e a morte. Acho que já viu o diabo.